quinta-feira, 15 de maio de 2014

Egoísmo Psicológico: Onde as Teorias Éticas se Encontram

Ao me deparar com as chamadas teorias éticas, percebo que dificilmente encontraremos em uma delas a teoria ideal. Todas possuem bons argumentos favoráveis e outros tantos argumentos que as pões em descrédito. Na verdade acredito que cada indivíduo, mesmo os que defendem abertamente uma teoria específica, tende a criar sua própria norma ética a partir de uma concha de retalhos de aspectos relevantes de cada uma delas, mesmo se identificando mais com uma ou outra.

O que percebo haver em comum em todas, é a busca pela manutenção da ordem social. Mesmo para um anarquista, a despeito da falsa idéia que se tem a respeito de sua ideologia, a busca pela ordem ainda é um objetivo comum, apesar da forma pouco ortodoxa utilizada. Assim podemos dizer - contrariando um dos argumentos do relativismo cultural - que existem sim, valores absolutos ou comuns a todas as culturas ou sociedades: os valores ou atitudes essenciais à sua própria subsistência, como a proteção ao incapaz, a presunção da verdade e o repúdio ao assassinato, por exemplo. Não estamos falando aqui em verdade absoluta em nível pessoal, estamos apenas partindo do princípio de que o próprio conceito de ética refere-se à regulamentação de normas para o convívio mútuo viável.
Partindo dessa premissa podemos afirmar que ao estudar o que seria a concepção ideal de norma ética, primeiramente devemos analisar o que seria ideal para a sociedade. Esta afirmação parece eliminar a teoria do egoísmo ético como considerável, pela simples inclusão da palavra “sociedade” em seu enunciado. Na verdade estamos admitindo nosso anseio por uma sociedade viável por considerá-la imprescindível para cada um dos indivíduos que a compõe: Para garantir meus interesses, preciso garantir a viabilidade da sociedade.
            Talvez a mais egoísta das teorias seja a ética religiosa.  Seus adeptos costumam conviver em grupos que em sua maioria pregam a caridade e o amor ao próximo. Porém, ao afirmar que devemos agir de determinada maneira para agradar a Deus ou porque ele assim ordenou, estamos afirmando que tanto a preocupação com o próximo quanto caridade legítima pertence exclusivamente a Ele e que quando o fazemos é apenas para, individualmente, recebermos suas recompensas ou evitarmos seu castigo.
            Já o subjetivismo tem como argumento de objeção, o fato de desconsiderar a razão, pois ao afirmar que a moral é limitada pelo que cada um acredita ser correto ela ignora que o homem, além de desejos, também possui razão, e esta transcende nosso julgamento de valores; ela, a razão, é a conclusão lógica do que é correto, livre de sentimentos ou preconceitos. Ela demonstra que o ser a humano é falho se opondo à teoria da infalibilidade humana do subjetivismo. A razão demonstrará a verdade dos fatos, e nos apontará o melhor caminho ou o mais “vantajoso” no longo prazo, livrando-nos das armadilhas da busca por prazer ou da felicidade imediata.
            O contratualismo parece procurar resolver os problemas de conflitos das demais teorias. Nesta teoria, em uma visão simplista, firma-se um compromisso, onde as partes negociam o que é melhor para cada uma, cedendo em alguns pontos a fim de se chegar à melhor razão custo-benefício e de evitar as disputas onerosas do tipo “vence o mais forte”. Admite-se que o resultado pode não ser o melhor possível para cada um, mas garante que para todas as situações, sairemos ganhando de alguma forma, eliminado o risco da derrota. A preocupação não é com o bem-estar do próximo e sim garantir um resultado mínimo. O dilema do prisioneiro deixa bem claro que em uma relação regida por contrato, mesmo que informal, o resultado não será o melhor para um e o pior para o outro e sim um meio termo favorável a ambos onde há sinergia: a soma dos resultados obtidos para ambos será maior do que a mesma soma se cada um agisse segundo seus próprios interesses. Pela ótica utilitarista, poderíamos dizer que no contratualismo, para evitarmos o risco, trocamos parte do prazer que poderíamos obter agindo de forma individualista, para garantir a fuga do sofrimento para o maior número de indivíduos.
            O utilitarismo parte do princípio que o ser humano age, em última instância, movido por dois objetivos: buscar prazer ou felicidade e evitar sofrimento. Considerando o homem como parte da sociedade e dela dependente, o utilitarismo defende então, um código moral que proporcione o alcance destes objetivos ao maior número possível de pessoas. Dessa forma ele apenas sugere, à semelhança do contratualismo, uma forma de se garantir uma maior probabilidade de obtenção do prazer individualmente já que, como parte dessa sociedade, somos potenciais beneficiados desse “engajamento”. Os mórmons e os judeus, entre outros grupos sociais religiosos ou étnicos nos Estados Unidos, apresentam índices de sucesso profissional e financeiro superiores à média americana. É fácil de constatar que isso se deve, em muito, pelo fato de estas comunidades agirem sinergicamente na forma de apoio mútuo. Judeus costumam comprar em lojas de judeus, mórmons preferem contratar outros mórmons para trabalhar em suas empresas, etc. Outro exemplo disso é a maçonaria. Não estamos dizendo que estes grupos seguem às máximas utilitaristas e é bem provável, aliás, que outras teorias éticas expliquem melhor o código moral adotado por cada uma delas, mas servem como um bom exemplo de pensamento utilitarista onde a ação é voltada para a maximização da satisfação em termos quantitativos e não necessariamente qualitativos. A preocupação real continua sendo individual, apenas atribui-se à ação em sociedade o poder de alcançá-la de forma mais eficaz. Mesmo quando esta teoria diz que o indivíduo - e não somente a sociedade - deve basear sua ação na maximização quantitativa da felicidade, o que se está dizendo é que todos os indivíduos deveriam agir dessa forma para garantir como resultado final uma maior probabilidade de satisfação para cada indivíduo. O comunismo é um bom exemplo: será que os defensores desse regime estão preocupados com o bem social, ou estariam apenas fugindo da disputa capitalista por não terem condições de vencer ou simplesmente por não estarem dispostos a competir?
            Com base no que foi dito até aqui, parece-me interessante acreditar nos preceitos do egoísmo psicológico sem, no entanto, defender os conceitos normalmente atribuídos de forma pejorativa – muitas vezes injustamente - ao egoísmo ético. Mas, segundo Palmer (2008), o egoísmo ético apenas conclui o que a teoria do egoísmo psicológico já deixa subentendido: ora, se somos incapazes de fazer algo sem quaisquer interesses, então consequentemente só devemos fazer o que nos é conveniente, já que é inconcebível exigir de alguém o que ele é incapaz de fazer. No entanto, contrariando o objetivo do autor, esta sua conclusão me leva então a considerar a viabilidade do egoísmo ético, já que me parece mais difícil desconsiderar o psicológico.
            Apesar de as diferentes teorias éticas discutirem o que seria o padrão ideal de moral ou de ética, todas acabam convergindo para o mesmo objetivo: a busca pela satisfação pessoal ou felicidade do indivíduo. A discussão na verdade seria sobre qual a melhor forma de se obter esta satisfação, e a preocupação com o próximo seria apenas a ponderação das consequências de nossas atitudes enquanto ser social. O indivíduo egoísta, no sentido popular da palavra, é então aquele em quem falta a razão e o discernimento necessários para perceber que esta atitude o será prejudicial a médio ou longo prazo.
             O egoísmo psicológico não afirma que uma mãe seria incapaz de defender seu filho se para isso ela tivesse que abrir mão da própria vida, pelo contrário, ela afirma que seria insuportável para uma mãe conviver com o fato de não ter salvado seu filho mesmo podendo fazê-lo. Sua ação, segundo o egoísmo psicológico teve como objetivo afastar de si este sofrimento. Mesmo quando alguém diz: “Não tenho interesse algum, fiz pelo simples prazer em ajudar”, fica explícito que o real motivador da ação foi “o prazer em ajudar”.  Não tenho a pretensão de diminuir a nobreza de tais gestos apenas pondero que talvez grande questão a ser discutida seja: quão nobres e razoáveis são os desejos que nos movem?  Já que de uma forma ou de outra sempre procuraremos satisfazê-los, algumas vezes movidos pelos desejos ou sentimentos, outras pela razão, pois como disse Pegorano (2010): “A razão, a vontade e a liberdade formam o campo onde se processa, cresce e amadurece a ética” 

Bibliografia:
Palmer, Michael.  Problema morais em medicina: Curso prático. Tradução de Bárbara Theoto Lambert.  Editora do Centro Universitário São Camilo: 1999.

Pegorano, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história, 4º edição – Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ética: Pautada na ciência ou na religião?


Assuntos como religião e ciências - enquanto opositores na formação do conceito de ética - sempre foram responsáveis por boas discussões, tanto em nível científico como em mesas de bares. Poucas coisas têm tanto poder de atiçar os ânimos dos debatentes quanto os assuntos ligados a valores morais e/ou religião. Penso não ser exagero falar que, ao se propor uma discussão nessa área, o fracasso é inevitável caso tenhamos como objetivo chegar ao final do debate com alguma conclusão definitiva.

Num primeiro momento poderia nos parecer razoável que discussões acerca de bioética, por exemplo, considerassem apenas aspectos tangíveis ou científicos, excluído tanto as questões religiosas quanto as ideológicas, pensando que assim estaríamos afastando da mesa de discussões, os motivos de maior polêmica, possibilitando uma maior concentração no que podemos comprovar através do método científico. No entanto, não podemos simplesmente desconsiderar questões intrínsecas da natureza humana, como a fé, pois muitas das consequências de decisões tomadas nesta área permeiam este campo. Mesmo para quem defende uma ou outra visão da questão com toda convicção que se pode ter, deve ao menos ponderar o contraditório.
Sem precisar procurar muito, observaremos uma diversidade de opiniões a respeito do tema: Uns pendem para o lado da ciência, outros para a religião, alguns são totalmente apático a uma ou outra ideia e simplesmente se fecham para a oportunidade de aprender com a diversidade. No século XIX, acreditava-se que a ciência acabaria por sepultar a religião, uma vez que oferecia respostas universais às perguntas que antes era oferecida de maneira relativa pela religião. No entanto o tempo nos mostrou que a cada descoberta da ciência acerca da formação do universo, o papel de Deus neste processo parecia aumentar numa progressão geométrica: As grandes descobertas nos mostravam que a complexidade da criação ia muito além da narrativa bíblica sem, no entanto, invalidá-la.
Ciência e religião não precisam andar separadas, e acredito que a polêmica que envolve esta questão, possa encontrar nessa afirmação, a oportunidade necessária para uma discussão menos passional: ora, não é necessário ser religioso para admitir a importância das religiões para o aperfeiçoamento ético das sociedades influenciadas por elas, nem tão pouco é preciso ser cético ou ateu para atribuir à ciência toda a sua importância para o desenvolvimento de uma ética pautada em princípios universais onde os opostos encontram a convergência inquestionável do experimento científico.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Evolucionismo criacionista...
Convergindo idéias

Entendo um evolucionista quem não crê em Deus argumentando não ter nenhuma razão para tal. No entanto eu, pelo contrário, não vejo nenhum motivo para crer que o Universo e principalmente a vida tenha surgido ao acaso. Seria muita coincidência.

Alguns argumentam não poder crer em um ser que tenha surgido do nada e então permanecem na busca natural, factível, ponderável, concebível etc. da origen do Universo. Ora, temos que admitir que esta busca  só terá fim, quando depararmos com algo até então inconcebível que quebrará todos os paradigmas. Deverá ser algo tão grandiosos, que talvez a ciência admitirá que ter chamado de Deus por tanto tempo não foi nenhum exagero.

Já o criacionista "ortodoxo", ao assumir a idéia da existência de Deus, admite sua ignorância sobre tudo que o antecede, o que o leva para uma zona de conforto difícil de questionar, pois ao assumir sua incapacidade de compreensão ele encerra qualquer debate de maneira inócua.

Acredito que a idéia da existência de um criador serve exatamente para preencher a lacuna deixada pelas mais diversas teorias. Nenhuma delas conseguiu chegar ao início. Quando surgiu o Big Bang, o que deu-lhe o "starter"? Ou seja, a idéia criacionista não necessariamente anula a evolução, apenas dá-lhe um ponto inicial, admitindo nossa limitação.

Não estou falando no estereótipo que todos fazem de Deus: um velho barbudo que diverte-se às custas de suas "marionetes". Para mim, Deus é como podemos chamar esta parte da teoria que ainda não foi satisfatoriamente explicada. Ele vai ocupando este espaço até que conheçamos a verdade. Seja o que for que deu início a tudo, deve ser "sobrenatural" considerando oque conhecemos até agora. Talvez um dia, isto tudo seja compreendido, mas enquanto isto não acontece, vou chamando de Deus mesmo.


sábado, 9 de março de 2013

Escalada do comprometimento sob a óptica da administração do tempo
Um dos vieses mais comuns da tomada de decisão.

Quantas vezes nos deparamos em uma situação que nos fez perceber que a decisão que nos levou a tal condição não era a ideal? Isto acontece justamente nas decisões mais importantes, uma vez que essas parecem não admitir uma segunda chance sem que se perca um tempo precioso em nossas vidas ou em nossas carreiras. Geralmente são decisões que tomamos sobre um assunto que ainda não dominamos por falta de experiência. Acontece que a experiência ou o domínio necessário sobre o assunto só vamos adquirir no decorrer do percurso escolhido “às cegas”. Nestes casos, tendemos quase que invariavelmente a insistir no erro sob o argumento de que "já não vale mais a pena voltar atrás" , ou talvez o orgulho nos leve não admitir o erro, seja perante nossas próprias consciências ou perante nossos superiores, nossos pares ou até mesmo perante nossos subordinados.
Em um projeto de cinco anos, por exemplo, depois de passados dois, não queremos admitir que perdemos esse tempo todo, ou ainda pior: que fizemos nossa equipe ou a empresa onde trabalhamos perder tempo e dinheiro por causa de uma decisão precipitada de nossa parte. Então ao invés de corrigir o erro, o agravamos ao decidir seguir desperdiçando mais três anos frustrantes na tentativa inócua de provar que estávamos certo. Não podemos esperar do tempo que passou nada mais do que a experiência adquirida, então a ponderação que deveríamos ter em uma situação dessas é: Perder mais três anos ou entrar nos trilhos e garantir uma maior probabilidade de sucesso considerando que agora a nova decisão está subsidiada pela experiência. O orgulho ou a frustração com algo que deveria ser considerado natural acaba por nos fazer perder uma grande oportunidade que só acontece após a experiência adquirida com os erros.
É claro que podemos questionar: Não poderíamos ter tomado a decisão certa logo de início avaliando com clareza as opções disponíveis embasados na experiência de outras decisões semelhantes ou de decisões supostamente idênticas tomadas por outras pessoas ou empresas em situação análogas? A resposta é: se a decisão que estamos tomando for qual marca de eletrodoméstico comprar, provavelmente sim. Mas quando falamos de decisões empresarias, que dependem de combinações de fatores intrínsecos das organizações e ainda de fatores contingenciais totalmente imprevisíveis que somados formam combinações de ambiente praticamente infinitos, é bem mais provável que cometamos alguns erros até acertarmos a mão.
Para não se correr o risco de parecer tão eufêmico ou simplista, podemos dizer que talvez caiba julgamento quanto ao momento em que resolvemos convergir nossa decisão: será que não demoramos demais para reconhecer o erro? Ou quantas vezes tivemos que reavaliar nossa postura para situações semelhantes: Será que não temos utilizado em excesso essa premissa? De qualquer forma, a reconsideração é sinal de coerência e sensatez, não de fraqueza. O tempo, se bem administrado, sempre estará a nosso favor e o reconhecimento de um erro em tempo para correção é uma forma eficiente de administrá-lo.


sexta-feira, 8 de março de 2013

Consultora Paula : 08 de março: Dia Internacional da Mulher.

Consultora Paula : 08 de março: Dia Internacional da Mulher.: Parabéns a todas as mulheres sem as quais, os homens não teriam razão de existir! Sua esposa, namorada, mãe ou amiga não merece um presente...

Fundamentos da fé
(Se é que existem...)

Acho engraçado quanto vejo um religioso tentando convencer um ateu da existência de Deus usando versículos bíblicos como fonte de argumentação.
Uma vez recebi em casa, por educação, um religioso fundamentalista que prometeu me provar que suas crenças estavam certas. Adivinha como ele pretendia fazer isso? Pois é: mostrando que estava tudo escrito na Bíblia. Penso que o primeiro passo seria convencer o interlocutor de que aquele livro de fato foi escrito sob inspiração divina. Erro fundamental de pregadores e evangelizadores: partir do princípio de que aqueles a quem pregam têm a mesma consideração que ele próprio tem pelo que está lá escrito e que, portanto, basta dar-lhes a "interpretação correta".
A bíblia foi escrita por homens, Jesus não lia o novo testamento (adivinhem porque), então pra mim qualquer tentativa de evangelização deveria ser pautada no bom senso, ponderação e no exemplo prático. Sabem por que acredito que uma mente inteligente criou o universo e a vida? Porque faz sentido. Ou melhor, porque o contraditório é que não faz sentido algum.
Realmente, não tenho respostas para a pergunta: "então de onde veio Deus?", muito menos a ciência conseguiu responder o que deu início a tudo. Deus para mim é um enigma que transcende nossa capacidade de compreensão, já que seria a origem de tudo. Assim como na frase de Lyall Watson que diz que "Se o cérebro humano fosse tão simples que pudéssemos compreendê-lo, seríamos tão simples que não o compreenderíamos", também o Criador, se fosse factível e comprovável, não seria poderoso o suficiente para criar a humanidade que conhecemos (ou que somos) e continuaríamos incapazes de compreendê-Lo e comprová-Lo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013